terça-feira, 17 de maio de 2011

Drave - A Aldeia Mágica

Se há coisas que me apaixonam no autocaravanismo é a facilidade e rapidez que me permite mudar de ideias para um destino de fim de semana.

Algures pelo Norte, o  Portal de Caravanismo e Autocaravanismo organizava um encontro informal com um grupo de autocaravanistas  para o qual também fui convidado. Nesse mesmo portal podem ser visualizadas mais fotos do evento, assim como vídeos.
 
Já um bocado chateado com S.Pedro tinha decidido não ir.
À ultima da hora, uma curta, breve e acesa discussão entre o Tico & Teco fez-me mudar de ideias. Decidi desafiar  S.Pedro a condicionar-me mais um fim de semana e em poucos minutos estava a Autocabana a rolar em direcção a Ul, em Oliveira de Azeméis.

Mais uma vez, e como sempre, rota traçada por estradas nacionais, desta vez sem olhar muito a consumos, pois a viagem era longa e já se fazia tarde.
Talvez um dia a "gerência" da Brisa queira repensar os valores absurdos que cobram pelo uso das auto-estradas. Contas feitas, o valor das portagens dá para almoçar e jantar fora um fim de semana inteiro, e garanto-vos que refeições como um belo bife à Arouquense é bem melhor e mais saboroso que as duas ou três horas  que se poupam em 500 ou 600km  de asfalto (e ainda sobra muito dinheiro).
Quase cinco horas depois  lá estava no ponto de encontro, aparecendo de surpresa.

Pernoita no parque de estacionamento junto do cemitério de Ul, onde apenas os sinos rompiam o silêncio da noite.
Foto de Eugénio Rodrigues


Na manhã de sabado, pouco intimidados com a chuva que se fazia sentir, iniciamos uma visita  ao Parque Temático Molinológico - Moinhos de Azeméis.


Ul é uma pequena povoação pertencente a Oliveira de Azeméis. Diversos riachos que cercam Ul foram dando origem ao aparecimento de moinhos de água, onde era feita a moagem de trigo, milho e arroz.
Ainda hoje, em alguns deles se procede à moagem de cereais, em especial o arroz.



 Ao longo da história destes moinhos o pão de Ul tornou-se famoso e com grande prestígio na região. É conhecido também como Padas de Ul.
O pão de Ul, ou Padas de Ul, mantem ainda hoje a sua imagem de prestigio e valor histórico através das mãos de mais de duas  dezenas de padeiras com largas décadas de experiência na confecção do pão.

Foto de Eugénio Rodrigues

 Neste Parque temático podemos visitar um pequeno museu, onde é possível ver os moinhos a trabalhar, a farinha a dar origem ao pão e a sua cozedura em forno a lenha.




Existe ainda uma exposição de antigos utensílios e ferramentas outrora utilizados.
Fazem parte das infraestruturas do Parque Temático um Bar em remodelação, que futuramente venderá produtos regionais, assim como um belo e pacato espaço para pic-nics, bem ao lado do rio Antuã. E nada como um percurso pedestre para abrir o apetite para o pic-nic!

Foto de Eugénio Rodrigues


Dali seguiríamos para Frecha da Mizarela. E digo seguiríamos não fosse a realização de uma prova de rally a cortar o acesso e trocar-nos as voltas. Nada que não se contornasse com um destino alternativo até esse acesso estar livre. Para fazer tempo, decidimos parar por umas horas em  Oliveira de Azeméis. Aqui visitámos o museu do vidro onde nos foram explicadas as técnicas ainda hoje utilizadas no fabrico de peças em vidro.

Foto de Eugénio Rodrigues

Foto de Eugénio Rodrigues

Uma volta pelo parque da Fundação La Salette, classificado de interesse público pela Autoridade Florestal Nacional (AFN).
Um parque de uma riqueza notável em espécies de arvoredo, quer pela diversidade, quer pelo porte e até mesmo a idade de alguns exemplares. Aqui podem ser vistas algumas sequóias que já mal devem saber a idade.

Visita feita, improvisado novo rumo agora em direcção a Arouca. Aqui encontravam-se as boxes dos carros de competição que tinham participado no Rally. Uma breve escapadinha até ao Monte da Senhora da Mó, onde existe a respectiva capela da N. Sra da Mó.



Daqui é possível ter uma vista panorâmica sobre o vale de Arouca e muito mais além.




Na hora do jantar, enquanto uns optaram por o fazer no conforto de suas autocaravanas, outros foram experimentar a gastronomia da região.
E aqui fica a recomendação para um belo bife à Arouquense no "café snack-bar Arouquense", sito na Av. 25 de Abril (Arouca). O preço é bastante acessível, a comida bem confeccionada e o atendimento exemplar.

Entretanto  terminada a prova de rally,  retomamos a nossa rota prevista. Embora com algumas horas de atraso, mantínhamos a visita a  todas os pontos de interesse previstos. Um subida até à Frecha da Mizarela, uma volta a pé já noite dentro pela aldeia que àquela hora até as ruas já dormiam, e por aí pernoitamos.
 Uma noite marcada pela chuva e vento, no entanto de perfeito descanso no que toca a outros ruídos.


Manhã de domingo ainda cedo, o nevoeiro alternado com a chuva,  ia abrindo e fechando como uma cortina de palco que nos deixava contemplar a paisagem por breves instantes, tornado-a ainda mais mágica a cada abertura do pano.

Foto de Eugénio Rodrigues

 Num dos actos dessa peça, foi-nos possível avistar a queda de água de mais 60 metros de altura, sendo uma das mais altas da Europa. Se lá passarem, não se limitem a vê-la do miradouro. Desçam a estrada por um km ou dois e apreciem outra panorâmica, bem mais bonita que vista cá de cima.

Foto de Eugénio Rodrigues


Finda a visita ao local, partimos para o ponto seguinte a visitar, bem próximo dali: Pedras Parideiras na serra da Freita.





As Pedras Parideiras são um fenómeno geológico muito raro no nosso planeta. Para além da Serra da Freita podem também ser encontradas na  Rússia perto de S. Petersburgo.


"Pedras Parideiras são um fenómeno geológico raro, um tipo de pedras que brotam de uma rocha-mãe, um bloco nodular de origem  granítica com 1000 x 600 m, daí se chamarem Parideiras. Os nódulos de 1 a 12 cm de diâmetro com formas discóides e biconvexas  são compostos pelos mesmos elementos mineralógica do granito, a camada externa é composta por biotite e a interna possui um núcleo de quartzo e feldspato potássico. Estes nódulos ao se desincrustarem dos núcleos da rocha-mãe por termoclastia deixam uma
camada externa em baixo relevo nos núcleos da rocha-mãe e espalham-se à volta desta."

Fonte: Wikipédia

O próximo local de visita estava comprometido pelo tempo chuvoso e nevoeiro. Incluía uma caminhada de 8km, e com o tempo assim,  não só se tornava penoso como o nevoeiro não permitiria desfrutar da paisagem. No entanto, não vencidos por S.pedro, seguíamos caminho.



Numa determinada paragem, um contacto com um habitante local já de idade avançada que guardava o seu gado bovino nas pastagens, animou-nos a alma ao nos dizer que o tempo ia limpar durante a tarde.



A idade e a experiência da gente do campo, torna para mim mais credível a sua previsão do estado do tempo que qualquer instituto de meteorologia. A visão quase profética e a minha crença, para ânimo de todos, veio a comprovar-se  poucas horas depois.

Serra da Freita


Kilometros e kilometros de serra iam-nos providenciando cenários dignos de registo.







Outra paragem e lá bem longe, quase que escondida num dos vales da serra de S. Macário estava Covas do Monte, a aldeia das 2500 cabras com apenas 65 habitantes.
 Um dos sítios apontados na lista de locais  a visitar.

 A profecia caminhava para a realidade, e o sol já se ia mostrando.
Covas do Monte



Muitas curvas, muitas subidas e descidas depois, chegámos a Regoufe, o ponto de partida da caminhada em direcção ao local por mim mais desejado.
O estacionamento das autocaravanas aqui revelou-se algo difícil e complicado. A força de vontade de atingir o objectivo a que nos tínhamos proposto fez-nos até desviar pedras de algumas dezenas de quilos para providenciar mais um lugar de estacionamento para uma das autocaravanas.

Foto de Eugénio Rodrigues


Hora de largar as autocaravanas e pegar nas mochilas. Garrafas de água, alguns alimentos dentro e pés a caminho.
O asfalto dava agora lugar a trilhos de xisto solto, tornando algumas partes do percurso  verdadeiros actos de malabarismo para não cairmos. Valia tudo menos entorces.

O trilho


Para trás íamos deixando Regoufe,que aguardava por nós no regresso.



Pelo caminho cruzamo-nos com um dos grupos de escuteiros responsáveis pela reconstrução e manutenção da aldeia para a qual nos dirigíamos.



É quase impossível transmitir pela escrita a beleza dos cenários paisagístico em que nos encontrávamos.







4 kilometros depois, pouco passava das 17h, lá estava  impávida e serena, como que à nossa espera, a aldeia de Drave, conhecida também pela aldeia mágica.



Drave, uma aldeia perdida, sem habitantes, escondida entre a serra da Freita e a serra de S. Macário.
As casas  em  pedra de xisto, com telhados de lousa fazem de Drave uma aldeia quase camuflada no cenário envolvente, destacando-se apenas, pela sua cor branca a capelinha dedicada a N. Sra da Saúde.

Parte das habitações foi adquirida por escuteiros, que têm procedido à restauração e manutenção de algumas casas.
É hoje a "Base Nacional da IV", ou "Base Nacional dos caminheiros".

No site da "Base Nacional da IV" pode ser lido o seguinte texto:

"Há alguns anos alguém pensou em encontrar um local com uma dimensão física e espiritual do que é ser Caminheiro.
 Passados tantos anos, fomos chamados a prosseguir um projecto que fosse capaz de encantar, e de tornar os Caminheiros  apaixonados por um espaço, onde cada um se sinta corpo do mesmo.
Assumimos este desafio como mais do que um simples projecto, é um sonho que pretendemos tornar possível.
Ousamos que este sonho se torne numa realidade apoiada nas acções dos Caminheiros.
Na Drave, encontramos um local privilegiado para criar um conjunto de condições para que cada Caminheiro desenvolva as suas capacidades,  se encontre consigo mesmo e defina o seu projecto de vida.
Não se trata apenas de reconstruir umas casas, ou de dotar a Drave de condições de habitabilidade, mas antes cada um viver a magia de se redescobrir a si próprio, de estar mais próximo do próximo, mais próximo de Deus.
Junta-te a nós, sonha e ousa connosco. Trabalhando em conjunto construiremos a BNIV, nela descobrirás a magia da Drave e viverás a  magia do que é SER CAMINHEIRO."

Fonte: Base Nacional da IV

Drave é uma aldeia magnífica, Drave tem magia.
Entre montes e vales escondida
Mantém cada pedra sua erguida.
Recusando dar-se por vencida
Por poucos a sua beleza é conhecida.

Drave faz parte de um Portugal que vale a pena conhecer.
Se visitarem Drave, deixem apenas pegadas, tragam apenas as fotografias.
Preservem Drave.

domingo, 1 de maio de 2011

Serra da Atalhada - Portugal Tradicional

Serra da Atalhada
08 Abril 2011

Através de uma iniciativa do "Portugal Tradicional", desta feita o destino apontou-se à Serra da Atalhada.
A Serra da Atalhada pertence à freguesia de Miro, concelho de Penacova.
Aqui existe um complexo turístico, composto por 23 moinhos de vento, um bar e um restaurante.
A data de construção destes moinhos é desconhecida. No entanto, num deles é possível ver gravada a data de 13-8-1870

Sexta Feira
A hora agendada para o encontro com os companheiros, na Serra da Atalhada estava marcado para as 18 horas.
Como tinha tirado a sexta feira de folga, logo bem cedo,  pelo fresco da manhã, prepara-se uma mochila com algumas  roupas e é hora de dar à chave na Autocabana. A ideia era explorar alguns recantos antes do encontro e assim aproveitar o dia.

Rota marcada por estradas nacionais, segui directo até Coimbra, e daí pela IP3 no sentido de Penacova.

Já perto de Penacova, rumei por estradas secundárias atravessando diversas vilas e aldeias, numa das quais
com paragem num mercado local para abastecimento de alguns alimentos para o fim de semana. Frigorífico abastecido,  segui caminho por mais uns km's até encontrar a praia fluvial do Vimieiro. Aqui decidi fazer nova paragem e apreciar a natureza.
Sendo um dia de semana, a praia encontrava-se deserta, à excepção do funcionário do bar local,
onde pude saciar a sede com uma água bem fresca, na explanada.
Ao som do chilrear dos pássaros, desligado do mundo por breves instantes, contemplava o calmo
correr das águas do rio Alva sobre um dique.



Daqui, a água era encaminhada a um moinho.



Aproximada a hora de inicio de chegada ao encontro, despeço-me daquele momento de contacto com a natureza e rumo até às coordenadas fornecidas. Um subida íngreme anunciava a chegada ao local, onde estrategicamente, décadas antes foram construídos os moinhos. Quase  a totalidade deles reconstruídos, mantendo o traço original. Uns convertidos em habitações, outros mantendo a sua original função de moagem de cereais.
 Pouco faltava para as 6h da tarde. O vento meio envergonhado permitia ao calor fazer-se notar com alguma intensidade.
 As sombras escasseavam, e optei por parar onde viria a ter sombra pela manhã.
 Ainda poucas autocaravanas tinham chegado . Saí para uma volta de reconhecimento, e familiarizar-me com o local.



Os monstros de D.Quixote






Manhã de sábado

A excelente organização do evento dividiu os participantes em dois grupos. Uns iriam acompanhar o percurso da farinha, desde o amassar à cozedura em forno a lenha.
Os outros participariam numa visita guiada ao local. Seguidamente invertiam-se os grupos.

Comecei por uma visita guiada ao local, onde nos foi explicado detalhadamente o funcionamento dos moinhos.
Foram armadas e esticadas as velas de um dos exemplares que mantém ainda a sua original função de moagem de cereais.


Apesar do vento não se fazer notar com uma intensidade e regularidade suficiente para um perfeito funcionamento do moínho, pudemos ver por alguns instantes todos os detalhes de uma tecnologia com séculos de existência, e que ainda hoje é utilizada.






Hora do almoço

O almoço foi servido com sopa, sardinhas, febras, pão e vinho da região num alegre e bem disposto convívio. 






O pão, ao qual se pode chamar verdadeiramente pão, chegava-nos através de uma sorridente e simpática senhora.




Sábado tarde

Após o almoço, fomos presenteados pelo grupo de escoteiros Nº239 de Miro - Penacova com a abertura do campo de escuteiros instalado durante o evento.
Domingo guiaram-nos por uma caminhada até Livraria do Mondego



Entretanto era altura de outro grupo ir assistir ao amassar da farinha e do cozer do pão. Como tudo isto foi feito em casas particulares, o grupo foi subdividido em três. No que toca ao grupo onde estava inserido, posso testemunhar que fomos recebidos com grande simpatia e hospitalidade pela anfitriã da casa.
Sempre acompanhado com explicações por quem tem anos de prática nestas lides, a massa ia ganhando forma.




Um sentimento nostálgico percorreu a minha memória, ao lembrar-me de quantas vezes tinha assistido,
na minha tenra juventude, a este processo quando passava as férias escolares em casa de familiares no Norte.
O passo seguinte: repousar a massa para esta levedar.
 
Foram aproximadamente 2 horas e meia de conversa entre nós (grupo) e habitantes locais que entretanto chegavam e partiam. A complementar a hospitalidade, foram-nos oferecidas bebidas, também estas  caseiras. Um licor de algo que não me recordo (talvez por não apreciar licores) e uma aguardente, devidamente "camufladas" em garrafas de conhecidas marcas.


A boa disposição sempre presente:


O forno ia sendo aquecido, como quem aguarda pelo resultado já bem familiar do trabalho de umas mãos experientes.


A massa ia ganhando forma de pão:

O resultado não podia ser melhor, e comprovado logo no momento. Mais uma vez a hospitalidade fez-se notar e foram-nos oferecidos alguns enchidos regionais e vinho para acompanhar com o pão acabadinho de cozer.





Domingo

Pela manhã, guiados pelo grupos de escoteiros de Miro - Penacova, rumamos serra fora. Algumas paragens serviam para explicações sobre o local, e também para que quem se sentisse cansado fosse acompanhado de regresso por um ou dois escoteiros.






Os mais resistentes chegaram ao fim e puderam contemplar a vista sobre Livraria do Mondego.



E como tudo o que é bom sabe a pouco, após o almoço estava na hora de ir regressando a casa. Vindo pela estrada nacional junto do rio Mondego, uma paragem para manutenção na AS de Penacova, e dava por concluído  um excelente fim de semana por mais um recanto de Portugal por descobrir.
Um Portugal que vale a pena conhecer.

Os meus agradecimentos a todos os que tornaram possível esta inesquecível experiência.