Algures pelo Norte, o Portal de Caravanismo e Autocaravanismo organizava um encontro informal com um grupo de autocaravanistas para o qual também fui convidado. Nesse mesmo portal podem ser visualizadas mais fotos do evento, assim como vídeos.
Já um bocado chateado com S.Pedro tinha decidido não ir.
À ultima da hora, uma curta, breve e acesa discussão entre o Tico & Teco fez-me mudar de ideias. Decidi desafiar S.Pedro a condicionar-me mais um fim de semana e em poucos minutos estava a Autocabana a rolar em direcção a Ul, em Oliveira de Azeméis.
Mais uma vez, e como sempre, rota traçada por estradas nacionais, desta vez sem olhar muito a consumos, pois a viagem era longa e já se fazia tarde.
Talvez um dia a "gerência" da Brisa queira repensar os valores absurdos que cobram pelo uso das auto-estradas. Contas feitas, o valor das portagens dá para almoçar e jantar fora um fim de semana inteiro, e garanto-vos que refeições como um belo bife à Arouquense é bem melhor e mais saboroso que as duas ou três horas que se poupam em 500 ou 600km de asfalto (e ainda sobra muito dinheiro).
Quase cinco horas depois lá estava no ponto de encontro, aparecendo de surpresa.
Pernoita no parque de estacionamento junto do cemitério de Ul, onde apenas os sinos rompiam o silêncio da noite.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Na manhã de sabado, pouco intimidados com a chuva que se fazia sentir, iniciamos uma visita ao Parque Temático Molinológico - Moinhos de Azeméis.
Ul é uma pequena povoação pertencente a Oliveira de Azeméis. Diversos riachos que cercam Ul foram dando origem ao aparecimento de moinhos de água, onde era feita a moagem de trigo, milho e arroz.
Ainda hoje, em alguns deles se procede à moagem de cereais, em especial o arroz.
Ao longo da história destes moinhos o pão de Ul tornou-se famoso e com grande prestígio na região. É conhecido também como Padas de Ul.
O pão de Ul, ou Padas de Ul, mantem ainda hoje a sua imagem de prestigio e valor histórico através das mãos de mais de duas dezenas de padeiras com largas décadas de experiência na confecção do pão.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Neste Parque temático podemos visitar um pequeno museu, onde é possível ver os moinhos a trabalhar, a farinha a dar origem ao pão e a sua cozedura em forno a lenha.
Existe ainda uma exposição de antigos utensílios e ferramentas outrora utilizados.
Fazem parte das infraestruturas do Parque Temático um Bar em remodelação, que futuramente venderá produtos regionais, assim como um belo e pacato espaço para pic-nics, bem ao lado do rio Antuã. E nada como um percurso pedestre para abrir o apetite para o pic-nic!
Foto de Eugénio Rodrigues |
Dali seguiríamos para Frecha da Mizarela. E digo seguiríamos não fosse a realização de uma prova de rally a cortar o acesso e trocar-nos as voltas. Nada que não se contornasse com um destino alternativo até esse acesso estar livre. Para fazer tempo, decidimos parar por umas horas em Oliveira de Azeméis. Aqui visitámos o museu do vidro onde nos foram explicadas as técnicas ainda hoje utilizadas no fabrico de peças em vidro.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Foto de Eugénio Rodrigues |
Uma volta pelo parque da Fundação La Salette, classificado de interesse público pela Autoridade Florestal Nacional (AFN).
Um parque de uma riqueza notável em espécies de arvoredo, quer pela diversidade, quer pelo porte e até mesmo a idade de alguns exemplares. Aqui podem ser vistas algumas sequóias que já mal devem saber a idade.
Visita feita, improvisado novo rumo agora em direcção a Arouca. Aqui encontravam-se as boxes dos carros de competição que tinham participado no Rally. Uma breve escapadinha até ao Monte da Senhora da Mó, onde existe a respectiva capela da N. Sra da Mó.
Daqui é possível ter uma vista panorâmica sobre o vale de Arouca e muito mais além.
Na hora do jantar, enquanto uns optaram por o fazer no conforto de suas autocaravanas, outros foram experimentar a gastronomia da região.
E aqui fica a recomendação para um belo bife à Arouquense no "café snack-bar Arouquense", sito na Av. 25 de Abril (Arouca). O preço é bastante acessível, a comida bem confeccionada e o atendimento exemplar.
Entretanto terminada a prova de rally, retomamos a nossa rota prevista. Embora com algumas horas de atraso, mantínhamos a visita a todas os pontos de interesse previstos. Um subida até à Frecha da Mizarela, uma volta a pé já noite dentro pela aldeia que àquela hora até as ruas já dormiam, e por aí pernoitamos.
Uma noite marcada pela chuva e vento, no entanto de perfeito descanso no que toca a outros ruídos.
Manhã de domingo ainda cedo, o nevoeiro alternado com a chuva, ia abrindo e fechando como uma cortina de palco que nos deixava contemplar a paisagem por breves instantes, tornado-a ainda mais mágica a cada abertura do pano.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Num dos actos dessa peça, foi-nos possível avistar a queda de água de mais 60 metros de altura, sendo uma das mais altas da Europa. Se lá passarem, não se limitem a vê-la do miradouro. Desçam a estrada por um km ou dois e apreciem outra panorâmica, bem mais bonita que vista cá de cima.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Finda a visita ao local, partimos para o ponto seguinte a visitar, bem próximo dali: Pedras Parideiras na serra da Freita.
As Pedras Parideiras são um fenómeno geológico muito raro no nosso planeta. Para além da Serra da Freita podem também ser encontradas na Rússia perto de S. Petersburgo.
"Pedras Parideiras são um fenómeno geológico raro, um tipo de pedras que brotam de uma rocha-mãe, um bloco nodular de origem granítica com 1000 x 600 m, daí se chamarem Parideiras. Os nódulos de 1 a 12 cm de diâmetro com formas discóides e biconvexas são compostos pelos mesmos elementos mineralógica do granito, a camada externa é composta por biotite e a interna possui um núcleo de quartzo e feldspato potássico. Estes nódulos ao se desincrustarem dos núcleos da rocha-mãe por termoclastia deixam uma
camada externa em baixo relevo nos núcleos da rocha-mãe e espalham-se à volta desta."
Fonte: Wikipédia
O próximo local de visita estava comprometido pelo tempo chuvoso e nevoeiro. Incluía uma caminhada de 8km, e com o tempo assim, não só se tornava penoso como o nevoeiro não permitiria desfrutar da paisagem. No entanto, não vencidos por S.pedro, seguíamos caminho.
Numa determinada paragem, um contacto com um habitante local já de idade avançada que guardava o seu gado bovino nas pastagens, animou-nos a alma ao nos dizer que o tempo ia limpar durante a tarde.
A idade e a experiência da gente do campo, torna para mim mais credível a sua previsão do estado do tempo que qualquer instituto de meteorologia. A visão quase profética e a minha crença, para ânimo de todos, veio a comprovar-se poucas horas depois.
Serra da Freita |
Kilometros e kilometros de serra iam-nos providenciando cenários dignos de registo.
Outra paragem e lá bem longe, quase que escondida num dos vales da serra de S. Macário estava Covas do Monte, a aldeia das 2500 cabras com apenas 65 habitantes.
Um dos sítios apontados na lista de locais a visitar.
A profecia caminhava para a realidade, e o sol já se ia mostrando.
Covas do Monte |
Muitas curvas, muitas subidas e descidas depois, chegámos a Regoufe, o ponto de partida da caminhada em direcção ao local por mim mais desejado.
O estacionamento das autocaravanas aqui revelou-se algo difícil e complicado. A força de vontade de atingir o objectivo a que nos tínhamos proposto fez-nos até desviar pedras de algumas dezenas de quilos para providenciar mais um lugar de estacionamento para uma das autocaravanas.
Foto de Eugénio Rodrigues |
Hora de largar as autocaravanas e pegar nas mochilas. Garrafas de água, alguns alimentos dentro e pés a caminho.
O asfalto dava agora lugar a trilhos de xisto solto, tornando algumas partes do percurso verdadeiros actos de malabarismo para não cairmos. Valia tudo menos entorces.
O trilho |
Para trás íamos deixando Regoufe,que aguardava por nós no regresso.
Pelo caminho cruzamo-nos com um dos grupos de escuteiros responsáveis pela reconstrução e manutenção da aldeia para a qual nos dirigíamos.
É quase impossível transmitir pela escrita a beleza dos cenários paisagístico em que nos encontrávamos.
4 kilometros depois, pouco passava das 17h, lá estava impávida e serena, como que à nossa espera, a aldeia de Drave, conhecida também pela aldeia mágica.
Drave, uma aldeia perdida, sem habitantes, escondida entre a serra da Freita e a serra de S. Macário.
As casas em pedra de xisto, com telhados de lousa fazem de Drave uma aldeia quase camuflada no cenário envolvente, destacando-se apenas, pela sua cor branca a capelinha dedicada a N. Sra da Saúde.
Parte das habitações foi adquirida por escuteiros, que têm procedido à restauração e manutenção de algumas casas.
É hoje a "Base Nacional da IV", ou "Base Nacional dos caminheiros".
No site da "Base Nacional da IV" pode ser lido o seguinte texto:
"Há alguns anos alguém pensou em encontrar um local com uma dimensão física e espiritual do que é ser Caminheiro.
Passados tantos anos, fomos chamados a prosseguir um projecto que fosse capaz de encantar, e de tornar os Caminheiros apaixonados por um espaço, onde cada um se sinta corpo do mesmo.
Assumimos este desafio como mais do que um simples projecto, é um sonho que pretendemos tornar possível.
Ousamos que este sonho se torne numa realidade apoiada nas acções dos Caminheiros.
Na Drave, encontramos um local privilegiado para criar um conjunto de condições para que cada Caminheiro desenvolva as suas capacidades, se encontre consigo mesmo e defina o seu projecto de vida.
Não se trata apenas de reconstruir umas casas, ou de dotar a Drave de condições de habitabilidade, mas antes cada um viver a magia de se redescobrir a si próprio, de estar mais próximo do próximo, mais próximo de Deus.
Junta-te a nós, sonha e ousa connosco. Trabalhando em conjunto construiremos a BNIV, nela descobrirás a magia da Drave e viverás a magia do que é SER CAMINHEIRO."
Fonte: Base Nacional da IV
Drave é uma aldeia magnífica, Drave tem magia.
Entre montes e vales escondida
Mantém cada pedra sua erguida.
Recusando dar-se por vencida
Por poucos a sua beleza é conhecida.
Drave faz parte de um Portugal que vale a pena conhecer.
Se visitarem Drave, deixem apenas pegadas, tragam apenas as fotografias.
Preservem Drave.